O MILAGRE
Num tempo como o que estamos a viver, em que uma
vida humana vale menos do que duas ou três notas de
banco; em que vícios inqualificáveis levam ao abuso
dos mais indefesos, aproveitando, ainda, para,
vergonhosamente, obter imagens repugnantes, que
divulgam e vendem, porque há mercado garantido;
quando uma parte disso é exposto, contado e
recontado, em jornais e na TV, assegurando, assim,
maiores vendas e mais audiências...
Nós, o público a quem se destinam estes relatos,
pormenorizados, de miséria humana, parecemos
quedar-nos sem grandes opçôes:
Ou viramos a cara para o lado e a nossa passividade
far-nos-á, de alguma forma, parecer cúmplices,
ou lemos, ouvimos e vemos e, daí, aumentamos as
vendas e fazemos crescer as audiências.
Esta amarga constatação surgiu, depois de ter visto,
ao longo de todo o dia, no noticiário de uma estação
de TV, uma peça sobre um "milagre", ocorrido numa
lagoa, algures, nos matos do Brasil:
É descoberto um saco de plástico, fechado, boiando
nas águas, após terem sido ouvidos uns vagidos,
semelhantes "ao miar dum gato".
Um indivíduo, com um pau, puxa o saco para a
margem e, lá dentro, vestidinha, aparentemente
seca e, até, com uma fita na cabeça, aparece uma,
bem nutrida, bebé "de cerca de 2 meses" e logo
quando, por ali, andava um "amador", com uma
câmara de vídeo.
No hospital mais próximo, constata-se que a bebé
está de perfeita saúde.
Parece-me lícito levantar algumas dúvidas, que bem
gostaria de ver esclarecidas:
1- A quantos canais de televisão, em todo o mundo,
foi vendida esta "reportagem de vídeo-amador"?
2- Quanto meteram, ao bolso , os autores deste
"milagre"?
3- De todos os profissionais que a adquiriram,
quantos, realmente, acreditaram na história e
quantos duvidaram, achando, contudo, que, não
a comprando, perderiam audiências, porque haveria,
sempre, outros que o fariam?
4- E, entre nós, público consumidor, quantos são os
que "enfiam o barrete" e quantos os que se indignam
com mais uma miserável exploração feita à custa
de um bebé?
TLIM
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