INTERROGAÇÕES SOBRE A MEMÓRIA
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! quer ver aprovada, no Parlamento, uma lei que obrigue o Estado a criar condições para preservar a memória da Resistência à ditadura:
A Lei da Memória.
Pretende-se a criação de um Museu da Resistência e da Liberdade e um Memorial aos presos políticos anti-fascistas.
Sem menosprezar, de forma alguma, os que sofreram durante o período da Ditadura, espanta-me que os Senhores Bloquistas tanto critiquem a constante evocação do Holocausto, pelos Israelitas, ou as romagens de alguns cidadãos Espanhois ao Vale dos Caídos.
Cada um tem as memórias que tem.
Ou a memória anti-fascista paira sobre todas as outras?
Os atropelos que se seguiram ao 25 de Abril não devem fazer, também, parte da nossa Memória?
Quantas pessoas tiveram acesso ao Relatório da Comissão de Averiguação de Violências Sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares?
Quantos se lembram de que existiram, a partir do 28 de Setembro de 1974 e durante 1975, torturas, agressões físicas violentas, prisões arbitrárias, mandados de captura em branco, utilizados pelo COPCON e invocando "suspeita de ligação com a reacção"(sic), ou "suspeita de pertencer a um bando de malfeitores"(sic)?
Ou das detenções, a altas horas da noite, sob o comando de militares subalternos, pedindo meças aos métodos da Pide?
Ou dos interrogatórios levados a cabo por civis sem preparação técnica e introduzidos, nas prisões, por organizações políticas?
Ou da recusa, sistemática, de assistência de advogado ou defensor, aos interrogatórios?
Ou da transferência arbitrária de pessoas das antigas Colónias para Lisboa, depois de espoliadas e destituídas dos seus empregos, por motivos ideológicos? E não estou a referir-me aos retornados.
Ou da impossibilidade do recurso ao "Habeas Corpus"?
Ou dos desmandos dos funcionários das cadeias, em matéria de tortura, maus tratos e tratamentos degradantes aos presos? - Presos Políticos, sublinhe-se.
Ou da incomunicabilidade desses mesmos presos, por longos períodos, sem acusação formada?
Ou da privação de recreio, de correspondência, de visitas, de artigos de higiene, de tabaco, de livros, de jornais?
Ou da falta de assistência médica?
Ou das confissôes forçadas, obtidas após longos interrogatórios, de arma encostada ao ouvido?
Ou das ameaças de fuzilamento?
Ou das coronhadas, da tortura do sono, das batidas, com pau, nas solas dos pés?
Ou da prisão de menores de 16 anos?
Ou das sevícias de carácter sexual, pela introdução do cabo duma vassoura no ânus de prisioneiros, na parada do RALIS?
Quem se afligiu com Abu Ghraib, saiba que, ali, não se inventou nada.
Houve tortura antes do 25 de Abril - praticada por uns - e continuou a haver, após essa data, com a utilização dos mesmíssimos métodos, pelos que se seguiram.
E, mudando de cenário, não esqueçamos, também, todos os Africanos-Portugueses que o Governo de Portugal abandonou à sua sorte, nas antigas Colónias para acabarem fuzilados.
Podia estar, aqui, a encher páginas e páginas.
Nem falei das vítimas de saneamentos selvagens, da espoliação dos seus bens, das ocupações de casas e propriedades agrícolas, da vandalização de Património.
Memórias, há muitas, Senhores Bloquistas.
E nenhumas devem ser consideradas mais importantes, só porque levam o rótulo de Anti-Fascistas.
Não são apenas esses que têm histórias tristes para contar aos netos.
TLIM
1 Comments:
Mas o BE tem que estar sempre em movimento para lembrar às pessoas que ainda está vivo.
Acabou a marcha, seguem-se as memórias.É preciso é falar.
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