UMA QUESTÃO CULTURAL
Se muita gente existe, a não morrer de amores pela entrada da Turquia, na União Europeia, persistindo em considerá-la pouco ou nada útil, também há os outros, achando que essa vai ser a solução milagrosa para o abrandamento do terrorismo.
O Governo Turco, por seu lado, interessado na integração, tem dado já alguns passos, no sentido de tentar modificar a sua legislação e aproximá-la da que vigora na generalidade dos Países Europeus.
"TENTAR", foi o que eu disse.
Por exemplo:
Os chamados "crimes de honra" deixaram de ser assim designados, para passarem a chamar-se "crimes tradicionais", coisa muito mais branda e com menos carga emocional.
E o que é, exactamente, um "crime de honra", ou "tradicional"?
Pois, muito simplesmente, a prerrogativa que assiste a qualquer membro masculino de uma família, para poder vir a "executar" (eliminar, sacrificar, fazer desaparecer, matar, dar sumiço, fazer a folha, limpar o sebo, como se entenda chamar ao acto), uma mulher (jovem/criança), sua familiar, que se atreva a pecar, ou, por outras palavras, se arrisque a trazer vergonha para dentro de casa.
Se namorar sem licença, se for infiel ou se, muito simplesmente, não conseguir evitar ser violada.
Já estou a ouvir o côro de protestos a dizer que isso é coisa lá para o Afeganistão, para o Cazaquistão, histórias do senhor Borat. Na Turquia, às portas da Europa, nem pensar!
Fazem questão de nos explicar que este é um país laico e moderno e que estes crimes são punidos por lei.
E nós acreditamos, claro.
O pior é saber-se que, ainda hoje, há o hábito de não registar, à nascença, muitas meninas - por via das dúvidas.
Se, uns anos mais tarde, um pai, um irmão, um tio se virem obrigados a fazer justiça pelas próprias mãos, já têm a vida facilitada:
Estrangulada ou degolada a prevaricadora, só terão o trabalho de a enterrar ou atirar para um poço.
Como não tinha existência legal, o crime nunca existiu.
E o governo Turco sai branqueado nas estatísticas sobre criminalidade.
É apenas uma questão CULTURAL.
TLIM
10 Comments:
Também coloco muitas reticências à entrada dos Turcos na Europa, apenas por ter a sensação que eles, culturalmente, pertencem a outra Europa qualquer que não a nossa...
Diz bem, Luís:
A outra Europa qualquer...seja lá qual for...
Pois, Sininho, eu também não vou muito na conversa do relativismo cultural. No entanto, estamos a falar de um país que se mete pelo Médio Oriente adentro em terras onde o Diabo perdeu as botas. Tenho sérias dúvidas de que os crimes que mencionaste sucedam em Ancara ou Istambul. Ou aquele país não tivesse tido um Kemal Ataturk que à força secularizou muito da ancestral Turquia. Para chegar à Anatólia tinha de ter havido aí ns 50 Ataturks... PAra não falar em territórios que estão sob a lei marcial...
POr esse motivo não se sabe se a coisa vai abortar... Isto se o aborto for legalizado por cá, mas isso é outra história.
'ora aí está uma forma engenhosa da turquia cortar pela raíz futuros movimentos feministas...
correm o sério risco de se tornarem num país alvo de estudo porque vejamos: se as crianças de sexo feminino não forem registadas, não existem. se não existem mulheres e apesar disso continua a manter-se a população turca ou até a aumentar, isso quer dizer o quê? que os homens também dão à luz? e se os homens dão à luz, o mais certo é haver actividade homosexual na turquia.. o que faz com que seja uma nação de apenas homens... gays!!! e se na turquia é só gays, naturalmente que são mal vistos pelos outros países do médio oriente que os querem escorraçar.. assim sendo encontram na europa o ombro amigo... países cheios de movimentos "gay pride" e "gays parade" é o sonho de qualquer nação homosexual puberde...
resumindo: a turquia é um país cheio de jovens homosexuais metidos no armário sob a capa de machos brigões e mortinha por vir para o velho continente despido de preconceitos onde até existe um papa que se veste como uma drag-queen em noite de gala...
isto não faz sentido pois não? estou a delirar né? desculpem... a sério... mil perdões...'
Pedro:
Que o Kemal Ataturk foi um homem bem à frente do seu tempo, é coisa que nem se discute. Mas, onde certo Islão continua a puxar muitos cordelinhos , às vezes (vide exemplo Iraniano),as coisas voltam para trás. Podem, até, dizer que a Turquia é um estado laico, mas foi em Istambul que desfilaram milhares, insultando o Papa, na véspera da sua chegada.
E estes, não é por nada, não me pareceram uns sujeitos lá muito esclarecidos...
Mas tudo é possível...
Mega:
Isso é que é imaginação!!!
Se fosse a si, dava conta das suas inquietações ao brioso grupo que nos representa no Parlamento Europeu...
A possibilidade deles não entrarem para a CE continua e também tenho certas reservas quanto a sua entrada na Europa, e já li que além de trocarem o nome às coisas, Sininho, há uma nova táctica: a de distorcerem os motivos óbvios se justificando pelo facto de serem mulçumanos e com isso ou só por isso - o que me parece uma linha de pensamento perigosa e dispensável - serem uma espécie de "persona non grata" por parte do Ocidente.
Não vejo a Turquia como um estado tão laico assim, mas as restrições tem muito mais a ver com as questões de falta de direitos humanos do que as questões puramente religiosas, não que estas não tenham relevância...
bjs
Cris:
É como diz:
Para umas coisas, interessa afirmarem-se laicos.
Já para outras, a condição de Muçulmanos" serve, às mil maravilhas, de justificação.
Trapalhadas, cuja "importação" é dispensável.
beijinhos
Tradição é tradição.
Cucagaio:
E por aquelas bandas, "a tradição ainda é o que era".
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