SÃO MARTINHO EM LISBOA
Um dos nossos orgulhos nacionais - o assador de castanhas maior do mundo, certificado pelo Guinness World Records - viajou de Vinhais até ao Terreiro do Paço alfacinha para comemorar o primeiro São Martinho oferecido ao povo pela nova edilidade.
Duas toneladas de castanha e uns copitos de vinho ( não produzido pelas vinhas da tapada da Ajuda) esperava-se que viessem alegrar um Domingo soalheiro passado na nossa praça mais emblemática, túneis àparte.
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Marcava o relógio do arco da rua Augusta 15 horas, quando mais de 400 pessoas iniciaram a aproximação à fogueira crepitante.
Empurrão daqui, cotovelada dali, «Ó Nelson, vê se passas aí para a frente e não me deslargues!» - bradou a Dona Lizete, no tom treinado à semana no mercado de Arroios.
As mãos já tinham tirado dos bolsos os sacos Feira Nova e Continente preparados para encher e levar para casa.
Foi o sinal.
A gentinha ali à volta, inquieta pelo início do assalto, iniciou uma competição fezoz pelo direito à castanha.
«Ai que vergonha, gananciosos!» - gemia uma senhora baixinha, de bebé a tiracolo que já nem se atreveu a avançar.
Alguns estrangeiros que assistiam atónitos à movimentação popular, captavam imagens digitais da cena para mostrar depois aos seus conterrâneos, a ilustrar o grau de civismo dos lisboetas.
-«Oh dear, oh dear» - murmurava a senhora de cabelo branco, levantando-se do chão, após valente escorregadela em poça de vinho tinto, entornado na calçada.
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Ao final da tarde e depois da debandada geral, ficou um tapete de cascas e castanhas pisadas, garrafas de plástico, sacos de supermercado e copos de papel amassados.
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Mas, prontos, dirão os mais compreensivos: não é para isso que pagamos contribuição autárquica?
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Etiquetas: Tradições, urbanidade e lindas figuras.
20 Comments:
Queria dizer "FEROZ" e não "FEZOZ".
Malvadas gralhas!
Tens um tipo de humor muito especial. Muito inteligente. Qualquer dia ainda te convidam para fazeres alguns sketches para o Gato Fedorento.
Não reclames ... também vai dar para pintar novas passadeiras e limpar passeios :)
Beijos
adenda:
tens um desafio no meu blogue , não viste ou fingiste que não ? :O) ;O)
adenda 2
ainda há pouco estive a ler os ocmentarios que deixei num blogue ... em vez de escrever gastos para as autarquias deixei lá escrito hierarquias ... e ainda tu me falas de gralhas???? lol
Beijos
Pra este país o que se está a tornar importante é entrar para o Guiness, seja qual for a razão.
Não sei se o saco do FN ou do C (não faço publicidade a esses senhores) não levaria para casa "comida" para matar fome, ou se não tinham dinheiro nem para uma castanhazita. Sei, de certeza, que o vinho da Tapada da Ajuda é bebido noutro sítios, porque "é demasiado bom para o povinho...."
Ai sorte, haviam de me pagar para me meter numa embrulhada daquelas, cheia de gente...
Beijinhos
E tu? Conseguiste alguma castanhinha? Não?! No ma credo... e fiquei com água na boca nham, nham.
Eu ficaria mais interessada se o Guiness fosse para a maior castanha, aí sim, valeria a pena a correria.
Beijinho
Gi:
Eles dizem que vão pintar e eu espero.
Se começarem de facto pelas passadeiras em frente das escolas...
Cá na minha área ainda não dei por nada.
Gastos para as hierarquias é o que não falta. Fugiu-te a boca para a verdade...
Como já disse na tua casinha, tomei nota, rapei do livro mais à mão mas, se não é para fazer batota, nem queiras saber o que saíu.
Qualidade literária...zero.
Já há meses a Maria me tinha lançado o desafio e tive de pegar no SEGUNDO mais perto porque o primeiro era a lista telefónica.
Bom, não digo mais nada até Quarta-feira.
E muito obrigada pelas tuas palavras e pelo desafio.
Beijinho
Criticam, criticam, mas a verdade é que temos sempre alguma coisa que é a maior do mundo. E sempre coisas muito boas (para além de grandes).
Só no Terreiro do Paço já vão tres, Ó:
primeiros, a maior árvore de natal
segundos, o supracitado assador de castanhas
terceiros (e ainda a crescer), a maioooooooor obra de metropolitano...
Maria:
Então? Se não fosse o Guinness o pessoal esforçava-se para quê?
Se bem te lembras o projecto das vinhas da Tapada era um dos objectivos da campanha do Zé.
Só que ainda não deu tempo. Lá para o próximo ano, pode ser.
Não foste à festa, não comeste castanhinha...
beijinho
Cris:
Só para ti eu posso contar mas não digas a ninguém:
Não fui lá.
E nem foi preciso.
Com o jornal do dia, a reportagem da SIC e a imaginação, faz-se a festa completa.
Podes crer.
Beijinho
A imagem que me ficou foi a mesa do Orçamento com os políticos em acção!
Samuel:
Tive de refazer a minha resposta que apaguei, devido a um desgraçado erro de ortografia.
Vou passar a tratar-te por tu, coisa que espero não seja levada a mal.
Até porque eu já tenho uma idade respeitável e toda gente faz de conta que não sabe.
Bom.
Essa da maiooooooor obra de metro é que me deixou verdadeiramente deprimida.
Lá assadores e árvores de Natal sempre dão alegria a alguns.
Mas o túnel...
É de pintar a cara de preto (sem que isto tenha qualquer conotação racista, é bom esclarecer desde já).
Abraço
A.Leitão:
Ele há cada um!
Como é que uma festança com alguns encontrões pelo meio te fez lembrar uma coisa dessas?
Nem chego a perceber...
Cabecinha mal intencionada, é o que é.
Abraço
Se organizassem uma sessao destas no Ultramar, o resultado seria bem mais desastroso.
De qualquer forma, a ocasiao seria bastante improvavel porque as hierarquias locais estao pouco habituadas a dar; as castanhas, assim que chegassem ao aeroporto iriam certamente directas ate casa de alguma autoridade local.
Mas, lendo a descricao do que sucedeu no Terreiro do Paco com as castanhas, depressa percebemos porque e que o Ultramar esta no estado em que esta. Basta pensar quem educou os nativos.
Ficam saudacoes da fria Escocia, onde os noticiarios dao conta de um novo programa - e um investimento avultado - que o Governo vai implementar nas escolas secundarias: para educacao civica dos jovens cidadaos.
xxx
*
Na terreiro do paço,
ou em azeitão,
comer castanhas é eterno
vou lá, porque sei o que faço
quem estiver á frente
leva um trambolhão
e quem refilar vai para o inferno
eu não respeito a via publica,
e podia ter mais educação,
que culpa tenho que a televisão
faça directos da assembleia da republica
quem quer quentes e boas, quentinhas?
a estalarem sopapos, de arromba
quem quer quentes e boas, quentinhas?
quem se põe á minha frente, leva
os sopapos na tromba.
,
desculpa, ary
*
um xi, capitã
*
Caro Anónimo africanista:
Já não dava um ar da sua graça há muito tempo...
Constato que continua sem dobrar a língua mas também, sendo anónimo, é assim que o reconheço.
Presumo que, de momento, tenha trocado o clima tropical pelo arzinho gélido da Escócia.
Recomendo vivamente que prove o "Haggis", especialidade local óptima.
Tendo dúvidas, consulte a wikipedia.
Acredito que a sua ausência esteja sendo muito sentida lá por terras do Zé Duda.
Um abraço e bom regresso
Poeta:
Não há dúvida de que estas incursões por músicas alheias se revelam altamente contagiosas.
Lá consegui trautear o teu "homem das castanhas" que se mudou da Praça da Figueira para o Terreiro do Paço.
E que, valha a verdade, é um bocadito mais conflituoso...
O Ary não terá outro remédio senão desculpar-te, tal como outros me terão desculpado a mim, quando tive atrevimentos semelhantes...
Abraço
Sininho
Ficamos pois conversados quanto aos vocelências, vosmicês e outros tratos, já que também ainda sou do tempo em que um ajuntamento assim tão caótico e "reivindicativo" no Terreiro do Paço, o melhor que teria dado seria certamente castanhada.
Abraço.
Foi uma "castanhada" à portuguesa, Sininho...
Claro que isto também acontece, porque há demasiada miséria à nossa volta (material e cultural...).
Samuel:
Fico então muito mais descansada.
Abraço
Luís:
Não me pareceu que os comedores de castanhas tivessem um ar assim muito miserável, no que ao físico diz respeito.
Já no que toca ao civismo, aí sim, a miséria é mais que muita...
Mas essa vai custar muito a desaparecer e continua sem se investir na educação dos mais pequenos, com vista ao futuro.
Pensarão:
Que se lixe o futuro que o que dá votos é o presente...
Abraço
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