TERCEIRA IDADE
Um passeio de IDOSOS que correu mal.
Tinham todos entre 60 e 70 anos, disseram todos os jornalistas.
Que correram a catar nos arquivos o que lá houvesse no capítulo de acidentes graves com IDOSOS.
Atropelamentos era o que não faltava. E em Entre-os-Rios também se ficaram vários.
Por acaso ainda não se lembraram dos casos de contra-mão mas certamente alguém haverá que os recorde nos próximos dias enquanto o assunto der para esticar.
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Se estes passageiros fossem negros, judeus, ciganos ou homosexuais e isso fosse referido nas reportagens, aqui d'el rei, que era uma discriminação.
Mas IDOSOS não têm quem fale por eles, apesar de serem discriminados todos os dias, nas mais variadas circunstâncias.
Não vale a pena.
Basta em tempo de campanhas eleitorais.
Acabadas essas, alto aí e pára o baile.
O certo é tratá-los com um certo paternalismo condescendente, pancadinhas nas costas e dialogar com eles como se todos fossem imbecis.
O que ainda é preferível aos maus tratos a que muitos são sujeitos por esse país fora.
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E depois, há o outro lado da coisa.
Os que, já não sendo nenhuns jovens, insistem em ver apenas OS OUTROS como velhos.
Tal como contava, há dias, a minha vizinha do 5º esquerdo:
"Eu estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista quando reparei que o seu diploma estava pendurado na parede. Ao ler o nome, recordei-me, de repente, de um moreno alto que tinha o mesmo nome.
Era da minha turma de liceu, aí uns 40 anos atrás.
Seria o mesmo rapaz por quem me tinha apaixonado?
Ao entrar no consultório e ao ver aquele homem grisalho, quase calvo, de rosto enrugado, achei que não podia ser o mesmo.
Pelo sim pelo não, perguntei se tinha andado no Pedro Nunes.
-«Sim», respondeu ele.
-«E em que ano acabou o liceu?»
-«1970. Porquê a pergunta?»
-«...Ah, bem, você era da minha turma», disse eu.
E então aquele velho horrível, anormal, cretino, filho duma égua perguntou-me:
-«A senhora era professora de quê?».
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E assim vamos andando.
21 Comments:
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sininho
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ai se eu pudesse . . .
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xi
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O problema principal dos idosos, para lá ainda de muitos preconceitos e mitos variados, é não serem uma minoria. Por este andar, aliás, cada vez serão uma maioria mais numerosa.
Quanto ao resto atentemos na palavras de Nelson Rodrigues, já com idade de idoso: "Jovens, envelheçam depressa!"
Poeta:
...E para melhor isto n�o vai...
Abra�o
Pedro:
Pois é.
Cada vez as maiorias ficam mais tramadas...
O Nelson Rodrigues às vezes confunde-me...
Abraço
Gostei da forma como acabaste...
Nada como um sorriso, mesmo quando se abordam coisas sérias...
Claro que quanto mais são, mais são olhados de lado... até os jovens os culpam de lhes roubarem as reformas, esquecidos dos muitos anos de descontos e das reformas de miséria...
Sabes que quando se conta uma história, a parte que se memoriza melhor é a final. Pois ... e eu até estou com remorsos de , depois da seriedade das tuas palavras, estar para aqui a rir com a história da tua vizinha do 5º andar :).
Ando por aqui e por ali aos pulinhos, comento coisas mais sérias quando "assentar" agora não consigo. Acho que os meus neurónios envelheceram sem eu dar por isso !
beijos e noite feliz
bem voltada
Luís:
É só uma questão de tempo até lá chegarem.
Daí talvez a frase do Nelson Rodrigues referida pelo Pedro.
E pelo caminho que as coisa levam, os velhinhos de amanhã amargarão mais do que os de agora.
Com bastante pena o digo, pensando nos filhos e netos que andarão por cá.
Abraço
Gi:
Os teus neurónios só te andam a suplicar umas horinhas de sono.
Digo eu...
Andei parte da tarde a tentar encontrar o teu post de 30 de Outubro (se a data não me falha) e falhei rotundamente.
Também foi difícil entrar no museu. Devia estar algum génio mau atrás da porta que me impedia a entrada.
Mas amanhã, diabos me levem se lá não entro!
Uma noite descansada. Cuida-te!
Beijinho
Há 24 horas que me martelam na cabeça com esta notícia...
Estou cansada de tanta repetição de notícias. Será porque estou cansada de ter "papado" toda a tarde o debate no parlamento, e de me preparar mentalmente para "papar" outro amanhã...
Este acidente foi uma tragédia. Mesmo que tivesse havido apenas um morto.
Mas já chega, qualquer dia deixo de ter nome e passo a ser mais uma sexagenária....
Desculpa, Sininho...
Beijinhos.
Gosto de te ver aqui, outra vez...
Maria:
Grande coragem a tua para aguentares a estucha do parlamento...
Numa coisa o Louçã teve piada.
Foi quando sugeriu que restituíssem o dinheiro das entradas dado o espectáculo não corresponder à publicidade feita...
Nem tu sabes como me irritam os termos "sexagenária", "septuagenária"...
"Sexagenária atropelada"...
IRRA!
Os nossos canais de televisão quando pegam num assunto que dê audiências são que nem cão com um osso.
Só largam quando está tudo roído.
Haja paciência.
Também já me faziam falta as vossas palavrinhas...
Beijos
Cara Sininho,
E não a choca ouvir falar das GRÁVIDAS como se fosse assim uma coisa?
Quando se diz que uma grávida foi à consulta, é suposto tratar-se de uma mulher. Ou não?
Mulheres grávidas ou simplesmente mulheres, não seria melhor?
Carteiro:
Sabe que está coberto de razão e eu nem tinha parado para pensar nisso?
É mais uma...
E o que acha da denominação de DOMÉSTICA, relativamente a uma senhora que trabalha na própria casa?
Uma coisa assim ao nível do cão, do gato, das galinhas ou dos perús...
Abraço
Ora, ora, foi exactamente o que me chamou a atenção: a ênfase em acidente de idosos, como se houvesse estatísticas a respeito. E seria o motorista ou os motoristas (do veículo e do autocarro), idosos, e daí? Realmente é estranho. Sabes que o maior medo que tenho da velhice, além de ficar gagá(esclerosada) e chata, e cheia de dor nas costas (que já tenho) é sofrer preconceito, única e exclusivamente por não ser mais jovem.
Beijinhos
Li os comentários e voltei. Observação de alguém de Terra Brasilis: achei o Louçã tão animadinho... não te pareceu? E os olhares animadinhos do Sócrates em retribuição? ;P
Beijinhos
Cris:
Para além do preconceito puro e duro, há aquele paternalismo bacoco que me irrita solenemente.
Desse já tenho provado, embora vindo de pessoas com a melhor das intenções.
Nem dá para responder torto...
Olha, bola para a frente e logo se verá.
Chata já sou um pouco...
Gagá, que me conste, ainda não...
O olhinho do Louçã anda mais brilhante desde que fez o acordo na Câmara de Lisboa, ora.
Beijinho
Esta moda das etiquetas idiotas é alimentada pelos nossos brilhantes jornalistas que designam (eufemisticamente) por "jovens" certos indivíduos que cometem delitos graves e que deviam ser rotulados de delinquentes, rapazolas, gabirus ou outra coisa qualquer. Mas jovens!!!.
E chamam (disfemisticamente)"populares" a pessoas, mulheres, homens que entrevistam apenas para encher chouriços na reportagem.
Que se há-de fazer, além de chamar a atenção?
Agora fizeste rir com a parte final do texto. Mas infelizmente corresponde à verdade.
Carteiro:
As tais etiquetas inserem-se no que se costuma designar por «polìticamente correcto».
E à custa dos «chouriços» estica-se um telejornal durante hora e meia, se der geito.
Abraço
Cucagaio:
Infelizmente, disse muito bem.
Abraço
E declaro aqui que me irritam muito as pessoas que beijam e abraçam velhinhos como se eles fossem criancinhas retardadas, só falta dizerem: "cutch, cutch, ti bonitinho"
Beijinhos
Cris:
Comungo TOTALMENTE desse teu sentimento.
Beijinho
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