UM DIA POR ANO

O pacote inclui Campo Pequeno, Bárbara Guimarães (e seus decotes), outros apresentadores incontornáveis, mais umas caras conhecidas vindas do Brasil.
Já me estava a passar (esquecimento imperdoável) a Floribella, esse tesourinho mais que deprimente da nossa estimada SIC generalista.
E, como novidade deste ano, parece que será premiada uma nova categoria, arranjada à última hora, pelo facto de terem feito um globo dourado, a mais (isto penso eu), além dos encomendados :
"O Melhor Beijo".
Prevê-se uma apresentação bem mais longa e sugestiva do que a do "Cinema Paraíso".
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Feita a introdução, passo para a parte mais séria:
Entre as figuras convidadas, temos uma criança de 7 anos, celebrizada na última novela da Globo, "Páginas da Vida", de seu nome, Joana Morcazel.
Sofrendo de Trissomia 21, ou Síndrome de Down, interpreta uma personagem com as mesmas características.
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Estivesse esta mesma criança a costurar sapatos para a Zara, no norte do nosso país, já teria saído meio mundo em defesa dos seus direitos inalienáveis:
Porque parece impossível essa exploração infantil e abaixo a Globalização, etc e tal.
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Para clarificar posições, eu NÃO defendo o trabalho infantil.
E porque o não defendo, custa-me um bocado a engolir, no meio do silêncio geral, a exploração diária de várias crianças, cuja ocupação deveria ser, exclusivamente, estudar e brincar e que, em vez disso, ou além disso, trabalham nos estúdios que fabricam aquelas séries de novelas execráveis destinadas a impedir a ida para a cama, a horas convenientes, da restante miudagem, que a elas assiste.
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Não que a novela "Páginas da Vida" não seja, de longe, superior a tudo aquilo que, no género, se faz por cá. Não é disso que se trata.
Trata-se de sujeitar uma criança (entre outras) a horas e horas de ensaios e filmagens, repetições de cenas, pressões de realizadores, pressão do público, sessões fotográficas, sessões de autógrafos e, com esta menina, em particular, a exibição comprovativa de como está bem integrada.
Para cúmulo, "contrata-se" esta criança para atravessar o Atlântico, interferindo com o seu "relógio biológico", só para vir entregar uma estatueta e aumentar audiências, tendo, para isso de suportar uma estucha de duas ou três horas, á noite, num local barulhento e pejado de adultos pretensiosos.
Pelo meio, ainda tem de gramar a Fátima Lopes, a Floribella e demais pragas obrigatórias.
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Os mesmos adultos pretensiosos do Campo Pequeno, quando chegar c dia 1 de Junho, serão os tais que irão desmultiplicar-se em declarações e iniciativas comemorativas do DIA MUNDIAL DA CRIANÇA.
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O tal DIA POR ANO.
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TLIM