A NOSSA PITORESCA CAPITAL
Lisboa tem uma frente para o Tejo de cerca de 13 quilómetros, diz Miguel Sousa Tavares.
Segundo parece, a Administração do Porto de Lisboa tem os gulosos olhos postos em Santa Apolónia, onde tenciona enveredar pelos compensadores negócios imobiliários e construír, à beira-rio, um mostrengo de betão com 8 metros de altura por 600 de comprimento, destinado a terminal de passageiros de paquetes.
Centrozinho comercial incluído, como é obrigatório.
.
Enquanto se fazem estudos e planos para o mamarracho, outros resolveram ocupar, turìsticamente, outra frente de rio, agora que o calor se aproxima.
O Padrão dos Descobrimentos está já rodeado de inúmeras caravanas, marcando lugar para o período estival.
Mas não se pense que foram só os tugas a avançar.
Também por lá andam ilustres turistas de outros países, deliciados com a permissividade que lhes consente fazerem férias em zona nobre, a troco de nada.
.
Apesar de uns tímidos avisos, proibindo pernoitar, parece existir, neste particular, um daqueles vazios na lei, que já se vão tornando demasiado rotineiros.
E o campista aproveita. Se os outros o fazem...
Um dia veio a polícia e pediu-lhes para retirarem, a fim de se proceder a umas filmagens.
O pessoal afastou-se em boa ordem.
À noite voltou.
Para fazer as suas sardinhadas ou assar as bifanas, à beira-rio.
E adormecer com o cheirinho da maré baixa.
As taínhas que por ali nadam, já foram chamar os tios , as primas e os amigos, que, volta e meia, lá vem balde de petiscos, em forma de despejo.
.
Ora, enquanto se tapa e não tapa a lacuna da lei (ou como diz o ditado,"enquanto o pau vai e vem...") talvez não fosse má ideia colmatar a ocupação da zona com umas roulottes de farturas, uns carrinhos de pipocas, uns tantos contentores expondo produtos contrafeitos, uns romenos de dentinho de ouro e criancinha à ilharga, a vender o Borda d´Água, enfim:
É só pensar num filme de Kusturika e pôr a imaginação a funcionar.
.
Tudo em prol do pitoresco da nossa cosmopolita capital.
.
.
.